Por que a realidade do coronavírus em Minas está mascarada

11 maio, 2020 • Acontece, Destaque, Telejornal

Os baixos índices de doentes e mortos pela COVID-19 em Minas Gerais são defasados pelo grande volume de diagnósticos pendentes. Por meio da compilação de bases de dados oficiais, foi identificado que o volume de resultados “a confirmar” em Minas é dos maiores do Brasil, fato endossado por especialistas e que engrossa a subnotificação de registros de contaminação e morte pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), bem como os descartados. Pelas informações transmitidas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) ao Ministério da Saúde (MS), Minas seria o quarto estado com menos mortes proporcionais à população e um dos que menos doentes apresenta. Mas, quando esse número é confrontado pelo ritmo de diagnósticos de casos pendentes, a confiança estatística e o desempenho estadual despencam.

Um dos mais importantes quadros de internação provocada pela COVID-19 é o da síndrome respiratória aguda grave (SRAG), quando há comprometimento da respiração. Mas só com exames é possível comprovar que a causa da síndrome seja o novo coronavírus. Quando se observa o número de mortes por SRAG fornecido pelo MS, Minas Gerais tem a 18ª pior taxa de confirmação para COVID-19, com 29% de exames pendentes no último levantamento do MS, de 4 de maio. Ou seja, 1/3 (65) dos quadros de mortos pela SRAG (225) está sem diagnóstico e pode ter sido causado pela COVID-19. Esse índice é o dobro do Distrito Federal (12,5%), pior do que estados com maior número de casos comprovados, como São Paulo (17,9%) ou Amazonas (8,4%), e semelhante ao do Rio de Janeiro (28,6%).

Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva, além da defasagem de confirmações mostrada pela reportagem e da patente falta de exames – que praticamente se restringem aos casos críticos, mas com demora –, há também testes que precisam ser refeitos por ter sido realizados de forma equivocada.

Quando se observam os casos de pacientes internados com SRAG, essa indefinição se mostra ainda maior em todas as unidades da Federação. Minas Gerais é o 17º pior, com 45,5% (quase a metade) dos quadros da síndrome ainda não definidos para a COVID-19 ou outro mal. A melhor razão de elucidações é a do Distrito Federal, com 29% de doentes a serem confirmados, seguida do Amazonas, com 31,2%. O volume é semelhante ao de São Paulo (49%) e melhor que do Rio de Janeiro (57,3%).


No caso dos óbitos gerais por COVID-19, a taxa mineira pelo MS é de 0,39 mortos por 100 mil habitantes, colocando MG na 24ª posição entre os estados com mais vítimas proporcionais à sua população. Esse número se amplia 2,3 vezes, chegando a 0,91 falecimentos quando observadas as certidões emitidas pelos necrotérios e que são enviadas para o Registro Civil. O estado informa que muitos desses mortos receberam registros que precisam de confirmação por exames. Mas essa comprovação se prova tão lenta que, comparando as notificações nacionais pelo mesmo serviço, o desempenho mineiro se reduz pela metade, posicionando MG como o 13º entre as unidades federativas com mais vítimas proporcionais da COVID-19.

A grande defasagem de dados e demora nos exames pode estar ocorrendo sobretudo no interior do estado de Minas Gerais. Segundo a Fundação Ezequiel Dias (Funed), que é baseada em Belo Horizonte, a capacidade de processamento da unidade é de 700 exames por dia, chegando a 2 mil caso sejam considerados os laboratórios parceiros. Com isso, boa parte dos diagnósticos a confirmar podem estar retidos no interior do estado.

Informações: Estado de Minas

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